O filósofo esloveno Slavoj Zizek tem uma teoria: a estrutura dos banheiros de um país reflete algo sobre a ideologia dessa nação. Na França, o buraco está localizado na parte de trás do banheiro, então os excrementos desaparecem imediatamente no buraco, para não serem vistos novamente. Nos banheiros alemães mais antigos, o buraco fica na frente, então as fezes ficam lá à mostra. Finalmente, no Brasil, a privada está cheia de água, então o cocô flutua inofensivamente antes de desaparecer.
Há algo aí. Depois de crescer no Brasil, onde minhas fezes flutuam lindamente no seu laguinho, é estranho visitar lugares como Budapeste na Hungria, onde as mesmas fezes ficam em uma pilha fumegante sobre a porcelana, me forçando a confrontá-las em sua forma mais crua antes que sejam mandadas pela descarga.
Ernest Becker disse que o próprio ato de defecar é uma ameaça à humanidade, pois nos lembra que não somos nada além de animais, amarrados às funções animais. É cruel para algum criador anônimo:
“moldar o milagre sublime do rosto humano … as verdadeiras deusas que são as belas mulheres; fazer isso do nada, do vazio … fazer tudo isso, e combinar com um ânus que caga! É demais. A natureza zomba de nós, e os poetas vivem em tortura ”.
O corpo humano morto frequentemente ocupa um lugar semelhante às fezes nos nossos cérebros civilizados. Como fezes (e seus primos vomito e saliva), o cadáver nos lembra que somos apenas um animal autoconsciente (ênfase no animal), algo que a maioria dos humanos passa muito tempo tentando esquecer. As imagens e cheiros produzidos por cadáveres e merda são protegidos no mundo moderno por atos de cultura coletiva.
O cadáver está protegido de nós por casas funerárias. Nossa merda está protegida de nós por vasos sanitários de cisterna. A teoria por trás de projetar um banheiro para que a merda flutue na água não é muito diferente da de embalsamar e higienizar o cadáver atrás de portas fechadas. É uma experiência refletida da verdade mais dura.
O que seu cocô está dizendo a você? Ele está dizendo que estamos condenados à morte. Está dizendo: olá, lembre-se do ying e yang do mundo, para cada belo momento da vida existe a dor da morte. Para cada cupcake que você come, há merda do outro lado.
Mas e se não fizermos cocô? Estaríamos cheios de merda. A mesma coisa seria verdade se ninguém nunca morresse. A morte é necessária para limpar os ‘cookies’, regenerar, para que o mundo possa comer novamente amanhã. Sacou?
Adaptação de conteúdo publicado no blog The Order of the Good Death. Leia o original, em inglês, aqui.
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